Rosemary
Lapa de Oliveira[1]
Uma
das maiores reclamações de docentes da educação básica é o volume de trabalho que
encontra na sua práxis pedagógica diária no que tange à produção de material de
aula: sejam planos de aula, atividades didáticas complementares aos livros
didáticos, questionários avaliativos ou outras mais produções próprias do fazer
pedagógico da docência. Não se pode dizer que a reclamação seja infundada. Importantíssimas
aos encaminhamentos que são desenvolvidos em uma sala de aula, sem as quais o
ensino-aprendizagem não passa de situação acidental, essas atividades
intelectuais demandam muito tempo e pesquisa para que fiquem adequadas às
situações a que se destinam e cumpram com o papel que lhes cabe. No entanto,
nesse cenário que se apresenta, não causa surpresa o volume de trabalho, mas o
fato de ele estar todo centrado na figura de um ou uma profissional apenas e
que raramente o grupo docente de uma mesma escola, ou um mesmo segmento de
ensino, compartilhe esses materiais.
Os textos que aqui se apresentam tentam quebrar essa
lógica, socializando as produções que tomaram como referência e inspiração os encaminhamentos
feitos durante o desenvolvimento do componente curricular obrigatório ED0595
Referenciais Teóricos e Metodológicos do Ensino de Língua Portuguesa, ministrado
no Departamento de Educação I da Universidade do Estado da Bahia (DEDC I) para
estudantes do curso presencial de Pedagogia, pela professora Rosemary Lapa de
Oliveira e encontra sustentação teórica e metodológica nas obras e autores referendados,
em especial, como bibliografia básica, Bernard Schneuwly e Joaquim Dolz em
Gêneros orais e escritos na escola e leituras e discussões realizadas nas aulas
de graduação, as quais giraram em torno da concepção de língua/linguagem (KOCH,
2003; ZABALA, 1998); letramento (SOARES, 2004; ROJO, 2012); gêneros textuais (MARCUSCHI,
2008) e Gramática e Ortografia (TRAVAGLIA, 2000; KOCH, 2003; MORAIS, 2000)
tomados como práticas constitutivas do sujeito e construtoras de sentido, além
de refletir sobre as propostas de ensino voltadas para autonomia e formação do
sujeito crítico-reflexivo (FREIRE, 1996; 2009).
Assim,
as Sequências didáticas aqui socializadas procuram ampliar as discussões sobre
a práxis pedagógica da Educação básica, primeiros ciclos, que têm como
mediadora a docência generalista, através do olhar de estudantes de Pedagogia
que oferecem aos colegas professores uma possibilidade de diálogo para pensar
um ensino de língua contextualizado através do estudo dos gêneros textuais,
tomando a gramática como um meio e modo de ler o texto de uma forma mais
crítica.
SEQUÊNCIA
DIDÁTICA: UMA FORMA DE VER E FAZER AULA
A
proposta foi uma atividade colaborativa em duplas ou eventuais trios, no
sentido de produção de uma sequência didática que, conforme a estrutura com que
foi construída, valorizasse os gêneros textuais, mas exigia, também, que a
abordagem do gênero textual considerasse a gramática que o ampara e lhe dá
subsídios de acontecimento.
O
trabalho começou pela compreensão de que os gêneros são práticas sociais
discursivas e são produzidos para comunicação nos diversos domínios sociais e,
assim sendo, é importante iniciar resgatando situações concretas para
oportunizar o trabalho de leitura antes da produção de texto. Assim,
compreende-se que o ensino não é apenas uma proposta para atender o currículo
escolar e uma atividade pedagógica.
O
ensino de gêneros justifica-se porque nas diversas situações sociais de práticas
da cidadania “que se colocam fora dos muros da escola [...] os alunos serão
avaliados (em outros termos, aceitos ou discriminados), à medida que forem capazes de responder a diferentes exigências de fala e
de adequação às características próprias de diferentes gêneros” (BRASIL,
1998, p. 25). Sendo assim, trabalhar com os gêneros na escola é construir neste
ambiente aprendizagens necessárias para interagir nas diversas práticas sociais
e comunicativas. Os gêneros podem ser considerados, segundo Bakhtin (2003), como instrumentos que fundam a
possibilidade de comunicação. Tratam-se de formas relativamente estáveis
tomadas pelos enunciados em situações habituais, entidades intermediárias que permitem estabilizar os elementos
formais e rituais das práticas de linguagem.
Acredita-se,
assim, na possibilidade de ensinar a escrever textos e de exprimir-se oralmente
em situações públicas escolares e
extra-escolares, quando no ambiente escolar diversas ocasiões de escrita
e fala são oferecidas aos alunos, sem que cada produção se transforme,
necessariamente, num objeto de ensino sistemático. É importante que o trabalho
seja de fato um projeto que crie contextos de produção precisos, com atividades
ou exercícios múltiplos e variados. Essa possibilidade anunciada, em execução, poderá
permitir aos alunos apropriarem-se das noções, das técnicas e dos instrumentos
necessários ao desenvolvimento de suas capacidades de expressão oral e escrita,
em situações de comunicação diversas (SCHNEUWLY;
DOLZ, 2004).
A Sequência Didática é um conjunto de atividades
escolares organizadas de maneira sistemática, em torno de um gênero textual
oral ou escrito (SCHNEUWLY;DOLZ, 2004, p. 82). Um projeto voltado para esse
trabalho reflete na psicodinâmica do ensino. É preciso, principalmente,
selecionar gêneros que o aluno não domina ou o faz de maneira insuficiente e
sobre gêneros dificilmente acessíveis, espontaneamente, pela maioria dos
alunos. A intenção é promover aos alunos acesso a práticas discursivas com linguagem
novas ou dificilmente domináveis.
Os
alunos, uma vez envolvidos, são motivados a participar de um projeto coletivo
para a produção de um gênero oral ou escrito. Cabe ao professor orientar as
tarefas que os alunos deverão realizar e participar das primeiras etapas – construção
da representação da situação de comunicação e da atividade de linguagem a ser
executada e preparação dos conteúdos dos textos que serão produzidos. Momento
em que importantes aspectos precisam ser definidos: a escolha de um gênero,
características, conteúdos.
As
etapas de trabalho devem funcionar de maneira dinâmica para que sejam
motivadoras da própria Sequência Didática, do trabalho do professor e dos
alunos. Para tanto, definem-se, assim, dispostas: Apresentação da situação de
trabalho; Produção inicial; Módulos de aprendizagens necessárias; Produção
Final. A primeira produção é reguladora da Sequência Didática e dos processos
de ensino e de aprendizagem. Durante as etapas, acontece a avaliação das
capacidades já adquiridas para ajustar as atividades e os exercícios previstos
na sequência às possibilidades e dificuldades reais da turma.
Os
módulos de aprendizagem constroem, a partir da primeira produção, os caminhos
que precisamos percorrer. Os problemas colocados na produção do gênero são,
então, trabalhados de maneira sistemática através de várias atividades ou
exercícios. É um exercício de capitalização das aquisições, aprendizagens
imediatas e de novas aprendizagens a partir das intervenções realizadas: escuta,
leituras, releituras, refacção, estudos, pesquisas, repetição. A proposta é que
cada sequência seja finalizada com um registro dos conhecimentos construídos
durante o trabalho e gere uma lista de conteúdos trabalhados.
REFERÊNCIAS
BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação
verbal. Tradução de Paulo Bezerra. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
BRASIL, Secretaria de Educação
Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: terceiro e quarto
ciclos do ensino fundamental; língua portuguesa. Secretaria da Educação
Fundamental. Brasília: MEC/SEC, 1998.
FREIRE,
Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes
necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996
FREIRE,
Paulo. A importância do ato de ler: em
três artigos que se complementam. 50 ed. São Paulo: Cortez, 2009
HAYDT,
Regina Cazaux. Avaliação do Processo
Ensino-Aprendizagem. São Paulo: Ática, 2007
KOCH,
Ingedore Vilaça. Desvendando os segredos
do texto. São Paulo: Cortez, 2003
LUCKESI,
Cipriano C. Avaliação da Aprendizagem
Escolar. 15ed. São Paulo: Cortez, 2003
MACEDO, Roberto
Sidney. A Etnopesquisa Crítica e Multirreferencial nas ciências humanas e na
educação. 2 ed. Salvador: Edufba, 2004
MARCUSCHI, Luiz
Antônio. Gêneros textuais emergentes no contexto da tecnologia digital. In:
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novas formas de construção de sentidos. Rio de Janeiro: Lucerna, 2005, p.
13-67.
MARCUSCHI, Luiz Antonio. Gêneros
textuais: o que são
e como se constituem. Recife, UFPE, 2000.
MARCUSCHI, Luiz
Antônio. Oralidade e Ensino da língua: uma questão pouco “falada”. In: DIONISIO, Angela Paiva; BEZERRA,
Maria Auxiliadora. O livro didático de
português: múltiplos olhares. Rio de Janeiro: Lucerna, 2003.
MARCUSCHI, Luiz
Antônio. Produção Textual, Análise de
Gêneros e Compreensão. São Paulo: Parábola Editorial, 2008
ROJO, Roxane;
MOURA, Eduardo. (orgs). Multiletramentos
na Escola. São Paulo: Parábola Editorial, 2012
SCHNEUWLY,
Bernard e DOLZ, Joaquim. (trad. e org. Roxane Rojo). Gêneros orais e escritos na escola. Campinas: Mercado de Letras,
2004.
SOARES, Magda. Letramento
e alfabetização: as muitas facetas. Rev.
Bras. Educ. n.25. Rio de Janeiro Jan./Apr. 2004
TRAVAGLIA, Luiz Carlos. Gramática e interação: uma proposta para o ensino de gramática no 1º e
2º graus. 5 ed. São Paulo: Cortez, 2000
VIGOTSKY, Lev Semenovitch. Pensamento e linguagem. São Paulo:
Martins Fontes, 2005.
ZABALA, Antoni. A
prática educativa: como ensinar. Trad. Ernani F. da F. Rosa. Porto Alegre:
ArtMed, 1998
[1]
Professora do Curso de Pedagogia do DEDC I – UNEB. https://www.blogger.com/profile/14494845126874793342
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