FÁBULA E TONICIDADE

UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA – UNEB
DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – DEDC CAMPUS I
CURSO: PEDAGOGIA
DISCIPLINA: REFERÊNCIAIS TEÓRICO-METODOLÓGICO DO ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA
DOCENTE: ROSEMARY LAPA DE OLIVEIRA
DISCENTES: MARLI SANTOS OLIVEIRA
                      MARILI SOUZA NASCIMENTO
     
FÁBULA E TONICIDADE

OBJETIVO GERAL

Valorização da cultura escrita e desenvolvimento da fluência em língua oral, leitura e interpretações de textos.

OBJETIVOS:

- Recuperar as histórias da primeira infância;
- Preparar a criança para a aprendizagem da escrita e da leitura de maneira  lúdica e criativa;
- Garantir ainda uma relação mais afetiva entre professora e alunos e facilitar uma melhor integração no ambiente escolar;
- Refletir sobre os princípios éticos, morais e culturais representados na história, interligando-os com a realidade atual, desenvolvendo a habilidade de argumentação;
- Explorar a linguagem oral e escrita.
- abordar sobre Tonicidade e os monossílabos tônicos e átonos, ( Abordaremos sobre tonicidade na 3ª aula, antes da falar sobre os monossílabos tônicos e átonos).

Gênero Textual: Fábula – O Patinho Feio

ENSINO FUNDAMENTAL – 2° Ano

EMPO ESTIMADO: 03 Aulas

MATERIAIS
Cartaz com texto para ser colocado no quadro;
Textos xerocopiados para cada aluno;
 Fichas com palavras retiradas do texto;
 Fichas das sílabas das palavras destacadas.

SEQUÊNCIA DIDÁTICA:         

AULA:

1º Passo:
A professora vai expor o texto feito em papel metro no quadro, logo será feita uma observação e comentários dos conhecimentos prévios dos alunos a respeito do gênero textual que será trabalhado:
Fábulas:

Comentários:

A professora questionará aos alunos se eles já conhecem a fábula do Patinho Feio; Que outras fábulas ele conhecem? Fará uma breve introdução da fábula que será lida, salientando que será a história de um patinho que nasceu diferente dos seus irmãozinhos e por isso se sentia muito triste. Vocês conhecem uma história assim? Vamos ver se essa história se parece com a do Patinho feio.

2º Passo

Atividade de produção de leitura: Perguntar aos alunos sobre o gênero fábulas, Quem conhece algum? De quais fábulas eles se lembram? Quem conta essas histórias para eles?
Vocês já viram, viveram ou conhecem alguém quem já passou pela situação semelhante a do Patinho Feio?
Se você fosse um dos irmãos do Patinho feio, o que você diria a ele? Como você se comportaria?
O Patinho feio recebia um tratamento diferente por ser diferente. Você acha que foi justo o comportamento dos outros animais com relação a ele?
O Patinho resolve ir embora, por causa de tantos maltrato. O que você diria ao Patinho: Que ele está certo e que deve ir mesmo embora ou que ele deveria conversar com todos e ver que é necessário respeitar as diferenças?
O que se pode dizer do comportamento final do Patinho Feio? Como você agiria se fosse ele? Justifique:

3° Passo

Leitura em voz alta e exploração do texto:

 - A professora explicará como será feita a interpretação do texto e as atividades relacionadas ao texto
- A professora fará mediação sobre o texto, orientando que observem as ilustrações do texto; O que eles entenderam ao ver as imagens ilustradas no texto ; O que elas querem demostrar para eles; qual é o título do texto; de que tema irá tratar o texto; e qual a finalidade da leitura desse texto.  Em seguida, apresentará o texto, deixando que os alunos explorem, verificando a ilustração, o título na tentativa de descobrir de que o texto falará, ou até mesmo qual será o seu tema, incentivar os alunos a lerem algumas partes do texto, ou mesmo palavras isoladas neles contidas.
- A professora deverá ler o texto em voz alta, apontado a palavra com uma régua e pedir aos alunos que acompanhem a leitura individual e coletiva mesmo que levem algum tempo para decifrar o código escrito centrando sua preocupação na busca do significado.
-Propor várias perguntas orais, relativas ao texto para que os alunos identifiquem parte do mesmo.
- Quem já sabe o título do texto?
- Qual o tempo da narrativa?  Quanto tempo ela dura? Justifique
- Onde ocorrem os fatos?
- Você mudaria essa história? Por quê?

AULA:

1° Passo 

 A professora fará atividades escritas de leitura para os alunos que já leem textos.
- Será feita uma atividade de interpretação:
1        - Qual é o titulo da história?_________________________________

2- De que o texto fala?_____________________________________
3-Quando começa a história?_______________________________
      ________________________________________________________
4     -Por que o patinho resolveu fulgir? ­­­­­­­­­­­­­­­­
5     -Quem ele encontrou primeiro?______________________________
6   -Quem chamou o patinho feio para voar?_______________________
7     
     O que o patinho descobriu?_________________________________
8     De acordo com o que você leu no texto complete:

a)    Essa história começa no______________________ e termina na_________________________.

b)    Quando o patinho fugiu, primeiro ele encontrou os_____________________, depois os _____________________ e, por fim os________________________________.

2° Passo- Atividades de produção de texto.

-Após a leitura do texto “O patinho feio” e sua exploração tanto oral quanto escrita, a professora pode sugerir que os alunos recontem outras histórias de fadas.
- Será feito uma proposta de produção de uma coletânea ou de um portfólio onde os textos serão colecionados e lidos por outros alunos na sala.
- O reconto poderá ser feito de três maneiras:
1°- Caso os alunos não estejam lendo com desenvoltura, a professora lerá o conto de fadas para eles e será sua escriba posteriormente, os alunos copiarão o reconto ditado por eles e escrito pela professora no quadro;
2° - A professora lerá a mesma história para a classe e cada aluno fará o seu reconto;
3°- Cada aluno lerá um conto de fada diferente, e em seguida fará o seu reconto.
Para a produção de textos os alunos deverão saber:
- O que escrever? Um reconto (gênero textual);
- Para quem? Para os colegas lerem;
- Para quê? Para montarem uma coletânea de reconto que serão lidos por outros colegas (propósitos/objetivos).

AULA: Tonicidade

- Monossílabos tônicos e átonos

1º Passo

A professora fará com os alunos a leitura do texto da Gramática da Emília e fará algumas perguntas para os alunos:
-Vocês sabem quem é a boneca Emília?
- De onde vocês ouviu falar da boneca Emília?
-Você sabe o que é gramática? Se eles responderem que não sabem a professora fará a mediação, explicando o que é uma gramática.
- Vocês sabiam que Emília foi dar um passeio no país da Gramática?
- Imagine que ela é toda questionadora. O que será que ela aprontou lá?
-Vamos saber o que aconteceu, vamos ler o texto?


UMA IDÉIA DA SENHORA EMÍLIA

-— Nele já estamos — disse o paquiderme. — Esse país principia
justamente ali onde o ar começa a zumbir. Os sons espalhados pelo ar,
e que são representados por letras, fundem-se logo adiante em SÍLABAS,
e essas Sílabas formam PALAVRAS — as tais palavras que constituem a
população da cidade onde vamos. Reparem que entre as letras há cinco
que governam todas as outras. São as Senhoras VOGAIS — cinco
madamas emproadas e orgulhosíssimas, porque palavra nenhuma pode
formar-se sem a presença delas. As demais letras ajudam; por si
mesmas nada valem. Essas ajudantes são as CONSOANTES e, como a
palavra está dizendo, só soam com uma Vogai adiante ou atrás. Pegue
as dezoito Consoantes do alfabeto e procure formar com elas uma
palavra. Experimente, Pedrinho.
Pedrinho experimentou de todos os jeitos, sem nada conseguir.
— Misture agora as Consoantes com uma Vogai, com o A, por
exemplo, e veja quantas palavras pode formar.
Pedrinho misturou o A com as dezoito Consoantes e
imediatamente viu que era possível formar um grande número de
palavras.
...
Puseram-se a caminho; à medida que se aproximavam da
primeira cidade viram que os sons já não zumbiam soltos no ar, como
antes, mas sim ligados entre si.
— Que mudança foi essa? — perguntou a menina.
— Os sons estão começando a juntar-se em SÍLABAS, depois as
Sílabas descem e vão ocupar um bairro da cidade.
— E que quer dizer Sílaba? — perguntou a boneca.
— Quer dizer um grupinho de sons, um grupinho ajeitado; um
grupinho de amigos que gostam de andar sempre juntos; o G, o R e o A,
por exemplo, gostam de formar a Sílaba Gra, que entra em muitas
palavras.
— Graça, Gravata, Gramática. . . — exemplificou Pedrinho.
— Isso mesmo aprovou Quindim. — Também o M e o U gostam
de formar a Sílaba Mu, que entra em muitas palavras.
— Muro, Mudo, Mudança. . . — sugeriu a menina.
— Isso mesmo — repetiu Quindim. — E reparem que em cada
palavra há uma Sílaba mais emproada e importante que as outras pelo
fato de ser a depositária do ACENTO TÔNICO
A professora fará mediação para que eles percebam que existem palavras nas quais as sílabas são pronunciadas com mais força e são chamadas de sílabas tônicas e em outras palavras as sílabas são pronunciadas com menos força e são chamadas de sílabas átonas, trazendo como exemplos as palavras abaixo:
- Gente, vocês viram o que o Quindim ensinou no final do texto? Ele disse que em cada palavra há uma sílaba mais emproada. Vocês sabem o que quer dizer emproada? (se quiserem, podem promover uma busca no dicionário ou levantar conhecimento contextual). Ah, então há uma sílaba que é a mais importante, a mais forte! Vamos fazer uma brincadeira com as palavras que apareceram no texto? Vamos brincar de vivo ou morto. Quando a sílaba for forte, a gente levanta. Na fraca, permanece sentado, ok? Então, vamos lá: GRA-ÇA; GRA-VA-TA, GRA-MÁ-TI-CA; MU-RO; MUDO; UM-DAN-ÇA. Uma dessas palavras que usamos na brincadeira é diferente das outras. Qual é ela? Por que ela é diferente? (gramática, por que tem acento). Às vezes, a sílaba mais forte recebe um acento, às vezes, não!
- Algumas palavras que só têm uma sílaba, também podem ter tonicidade, podem ter som forte. Vejam só:

Pó- pá- pé- até – vê – nó – só
- Diferente dessas outras que têm som fraco:
Que – por – e – em – de – lhe – eu - 

2° Passo

Trazer fichas feitas em cartolinas com palavras monossílabas do texto:
 Tão – que – por – mãe – com – uma – sol – num – vez – por.
A professora lerá as palavras para que os alunos percebam a intensidade das palavras e também fará uma leitura coletiva para que eles ao pronunciarem as palavras percebam a intensidade das palavras tônicas e átonas.

 3º Passo:

Atividade:
1-    Vamos voltar ao texto da Emília no País da Gramática? Que palavras que só têm uma sílaba – as monossílabas – são acentuadas e quais não são? Metade da sala vai procurar somente as tônicas e a outra metade só as átonas. Vamos ver qual aparece mais!
___________________________________________________
                   ___________________________________________________

2- Agora tente usar somente as monossílabas tônicas para formar 2 frases com as palavras dissílabas:

a)    pato -------------------------------------------------------------------------------------

b)    asas -------------------------------------------------------------------------------------


Avaliação: Verificar a postura e a participação de cada aluno na audição da história, sua participação (de forma construtiva) em debates e na recuperação de dados, na interação com o grupo em atividades relacionadas ao tema.
                    
REFERÊNCIAS:

LOBATO, Monteiro. Emília no País das Maravilhas. Editora: Circulo do Livro. São Paulo
Disponível em: http:// www.ftd.com.br/noticias/contos-de -fada - nas -series-iniciais do –fundamental . Acessado em: 26 de junho de 2014.
Disponível em: http:// Eunicemirandaoliveira.blog.com.br/2013/09/língua-portuguesa. Acessado em: 29 de junho de 2014.
Disponível em: http:// www.sílabas.com.br/sílabas. Acessado em: 28 de junho de 2014.


ANEXOS
I - O Patinho Feio

            Era verão quando nasceu o Patinho Feio. Surgiu de dentro de um ovo tão grande
que todos pensaram tratar-se de um ovo de peru que por acaso caíra num ninho de pata.
            _ Que pato mais feio! - ouvia ele quando sua mãe o levava pelo quintal. [...].
O Patinho Feio sentia-se tão infeliz e malquisto que resolveu fugir.
Atravessou os campos e encontrou alguns patos selvagens.
            _ Como você é feio! - disseram-lhe também.
            Mas aceitaram sua companhia, contanto que jamais se casasse
com uma pata selvagem. [...] Decidiu partir novamente, aceitando um convite
dos gansos que o chamavam para voar.
            _ Você é feio demais! - comentaram os gansos. - Você é tão feio que
acabamos gostando do seu jeito.
Mas, antes que o Patinho Feio alçasse vôo, seus novos amigos foram mortos por caçadores e ele se viu só mais uma vez. [...]
Quando chegou a primavera, cansado e triste, o Patinho Feio avistou as
aves mais  lindas  que já encontrara na vida. Eram cisnes que nadavam num rio. Aproximou-se e, pela primeira vez, olhou para as águas e viu seu reflexo.
 Descobriu que era um cisne como eles.
    Por um instante lembrou-se do tempo em que era maltratado e perseguido. 
Depois, moveu as asas que brilhavam sob o sol e, também  pela primeira vez,
sentiu-se feliz.

(Recontada por Marcelo Coelho. Vice-versa ao contrário.
Companhia das Letrinhas, 1993.).

II - Uma ideia da Senhora Emília

Dona Benta, com aquela paciência de santa, estava ensinando
gramática a Pedrinho. No começo Pedrinho rezingou.
— Maçada, vovó. Basta que eu tenha de lidar com essa
caceteação lá na escola. As férias que venho passar aqui são só para
brinquedo. Não, não e não. . .
— Mas, meu filho, se você apenas recordar com sua avó o que
anda aprendendo na escola, isso valerá muito para você mesmo,
quando as aulas se reabrirem. Um bocadinho só, vamos! Meia hora por
dia. Sobram ainda vinte e três horas e meia para os famosos
brinquedos.
Pedrinho fez bico, mas afinal cedeu; e todos os dias vinha
sentar-se diante de Dona Benta, de pernas cruzadas como um oriental,
para ouvir explicações de gramática.
— Ah, assim, sim! — dizia ele. — Se meu professor ensinasse
como a senhora, a tal gramática até virava brincadeira.
Mas o homem obriga a gente a decorar uma porção de definições
que ninguém entende. Ditongos, fonemas, gerúndios. . .
Emília habituou-se a vir assistir às lições, e ali ficava a piscar,
distraída, como quem anda com uma grande idéia na cabeça.
É que realmente andava com uma grande idéia na cabeça.
— Pedrinho — disse ela um dia depois de terminada a lição —,
por que, em vez de estarmos aqui a ouvir falar de gramática, não
havemos de ir passear no País da Gramática?
O menino ficou tonto com a proposta.
— Que lembrança, Emília! Esse país não existe, nem nunca
existiu. Gramática é um livro.
— Existe, sim. O rinoceronte1, que é um sabidão, contou-me que
existe. Podemos ir todos, montados nele. Topa?
Perguntar a Pedrinho se queria meter-se em nova aventura era o
mesmo que perguntar a macaco se quer banana. Pedrinho aprovou a
idéia com palmas e pinotes de alegria, e saiu correndo para convidar
Narizinho e o Visconde de Sabugosa. Narizinho também bateu palmas
— e se não deu pinotes foi porque estava na cozinha, de peneira ao colo,
ajudando Tia Nastácia a escolher feijão.
— E onde fica esse país? — perguntou ela.
— Isso é lá com o rinoceronte — respondeu o menino. — Pelo
que diz a Emília, esse paquiderme é um grandessíssimo gramático.
— Com aquele cascão todo?
— É exatamente o cascão gramatical — asneirou Emília, que
vinha entrando com o Visconde.
Os meninos fizeram todas as combinações necessárias, e no dia
marcado partiram muito cedo, a cavalo no rinoceronte, o qual trotava
um trote mais duro que a sua casca. Trotou, trotou e, depois de muito
trotar, deu com eles numa região onde o ar chiava de modo estranho.
— Que zumbido será esse? — indagou a menina. —
1 Esta ilustre personagem aparece pela primeira vez no livro Caçadas de
Pedrinho. (N. do E.)
Parece que andam voando por aqui milhões de vespas invisíveis.
— É que já entramos em terras do País da Gramática
— explicou o rinoceronte. — Estes zumbidos são os SONS ORAIS,
que voam soltos no espaço.
— Não comece a falar difícil que nós ficamos na mesma —
observou Emília. — Sons Orais, que pedantismo é esse?
— Som Oral quer dizer som produzido pela boca, A, E, I, O, U
são Sons Orais, como dizem os senhores gramáticos,
— Pois diga logo que são letras! — gritou Emília.
— Mas não são letras! — protestou o rinoceronte. — Quando
você diz A ou O, você está produzindo um som, não está escrevendo
uma letra. Letras são sinaizinhos que os homens usam para representar
esses sons. Primeiro há os Sons Orais; depois é que aparecem as letras,
para marcar esses Sons Orais. Entendeu?
O ar continuava num zunzum cada vez maior. Os meninos
pararam, muito atentos, a ouvir.
— Estou percebendo muitos sons que conheço — disse
Pedrinho, com a mão em concha ao ouvido.
— Todos os sons que andam zumbindo por aqui são velhos
conhecidos seus, Pedrinho.
— Querem ver que é o tal alfabeto? — lembrou Narizinho. — E é
mesmo!. . . Estou distinguindo todas as letras do alfabeto. . .
— Não, menina; você está apenas distinguindo todos os sons
das letras do alfabeto — corrigiu o rinoceronte com uma pachorra igual
à de Dona Benta. — Se você escrever cada um desses sons, então, sim;
então surgem as letras do alfabeto.
— Que engraçado! — exclamou Pedrinho, sempre de mão em
concha ao ouvido. — Estou também distinguindo todas as letras do
alfabeto: o A, o C, o D, o X, o M. . .
O rinoceronte deu um suspiro.
— Mas chega de sons invisíveis — gritou a menina. —-Toca para
diante. Quero entrar logo no tal País da Gramática.
-— Nele já estamos — disse o paquiderme. — Esse país principia
justamente ali onde o ar começa a zumbir. Os sons espalhados pelo ar,
e que são representados por letras, fundem-se logo adiante em SÍLABAS,
e essas Sílabas formam PALAVRAS — as tais palavras que constituem a
população da cidade onde vamos. Reparem que entre as letras há cinco
que governam todas as outras. São as Senhoras VOGAIS — cinco
madamas emproadas e orgulhosíssimas, porque palavra nenhuma pode
formar-se sem a presença delas. As demais letras ajudam; por si
mesmas nada valem. Essas ajudantes são as CONSOANTES e, como a
palavra está dizendo, só soam com uma Vogai adiante ou atrás. Pegue
as dezoito Consoantes do alfabeto e procure formar com elas uma
palavra. Experimente, Pedrinho.
Pedrinho experimentou de todos os jeitos, sem nada conseguir.
— Misture agora as Consoantes com uma Vogai, com o A, por
exemplo, e veja quantas palavras pode formar.
Pedrinho misturou o A com as dezoito Consoantes e
imediatamente viu que era possível formar um grande número de
palavras.
Nisto dobraram uma curva do caminho e avistaram ao longe o
casario de uma cidade. Na mesma direção, mais para além, viam-se
outras cidades do mesmo tipo.
— Que tantas cidades são aquelas, Quindim? — perguntou
Emília.
Todos olharam para a boneca, franzindo a testa. Quindim? Não
havia ali ninguém com semelhante nome.
— Quindim — explicou Emília — é o nome que resolvi botar no
rinoceronte.
— Mas que relação há entre o nome Quindim, tão mimoso, e um
paquiderme cascudo destes? — perguntou o menino, ainda surpreso.
— A mesma que há entre a sua pessoa, Pedrinho, e a palavra
Pedro — isto é, nenhuma. Nome é nome; não precisa ter relação com o
"nomado". Eu sou Emília, como podia ser Teodora, Inácia, Hilda ou
Cunegundes. Quindim!. . . Como sempre fui a botadeira de nomes lá do
sítio, resolvo batizar o rinoceronte assim — e pronto! Vamos, Quindim,
explique-nos que cidades são aquelas.
O rinoceronte olhou, olhou e disse:
— São as cidades do País da Gramática. A que está mais perto
chama-se Portugália, e é onde moram as palavras da língua portuguesa.
Aquela bem lá adiante é Anglópolis, a cidade das palavras inglesas.
— Que grande que é! — exclamou Narizinho.
— Anglópolis é a maior de todas — disse Quindim. — Moram lá
mais de quinhentas mil palavras.
— E Portugália, que população de palavras tem?
— Menos de metade — aí umas duzentas e tantas mil, contando
tudo.
— E aquela, à esquerda?
— Galópolis, a cidade das palavras francesas. A outra é
Castelópolis, a cidade das palavras espanholas. A outra é Italópolis,
onde todas as palavras são italianas.
— E aquela, bem, bem, bem lá no fundo, toda escangalhada,
com jeito de cemitério?
— São os escombros duma cidade que já foi muito importante
— a cidade das palavras latinas; mas o mundo foi mudando e as
palavras latinas emigraram dessa cidade velha para outras cidades
novas que foram surgindo. Hoje, a cidade das palavras latinas está
completamente morta. Não passa dum montão de velharias. Perto dela
ficam as ruínas de outra cidade célebre do tempo antigo — a cidade das
velhas palavras gregas. Também não passa agora dum montão de cacos
veneráveis.
Puseram-se a caminho; à medida que se aproximavam da
primeira cidade viram que os sons já não zumbiam soltos no ar, como
antes, mas sim ligados entre si.
— Que mudança foi essa? — perguntou a menina.
— Os sons estão começando a juntar-se em SÍLABAS, depois as
Sílabas descem e vão ocupar um bairro da cidade.
— E que quer dizer Sílaba? — perguntou a boneca.
— Quer dizer um grupinho de sons, um grupinho ajeitado; um
grupinho de amigos que gostam de andar sempre juntos; o G, o R e o A,
por exemplo, gostam de formar a Sílaba Gra, que entra em muitas
palavras.
— Graça, Gravata, Gramática. . . — exemplificou Pedrinho.
— Isso mesmo aprovou Quindim. — Também o M e o U gostam
de formar a Sílaba Mu, que entra em muitas palavras.
— Muro, Mudo, Mudança. . . — sugeriu a menina.
— Isso mesmo — repetiu Quindim. — E reparem que em cada
palavra há uma Sílaba mais emproada e importante que as outras pelo
fato de ser a depositária do ACENTO TÔNICO. Essa Sílaba chama-se a
TÔNICA.
— O mesmo nome da mãe de Pedrinho!... — observou Emília
arregalando os olhos.
— Não, boba. Mamãe chama-se Tônica e o rinoceronte está
falando em Sílaba Tônica. É muito diferente.
— Perfeitamente — confirmou Quindim. — No nome de Dona
Tônica a Sílaba Tônica é Ni; e na palavra que eu disse a Sílaba Tônica é
o To. E na palavra Pedrinho, qual é a Tônica?
— Dri — responderam todos a um tempo.
— Isso mesmo. Mas os senhores gramáticos são uns sujeitos
amigos de nomenclaturas rebarbativas, dessas que deixam as crianças
velhas antes do tempo. Por isso dividem as palavras em OXÍTONAS,
PAROXÍTONAS e PROPAROXÍTONAS, conforme trazem o Acento Tônico na
última Sílaba, na penúltima ou na antepenúltima.
— Nossa Senhora! Que "luxo asiático"! — exclamou Emília. —
Bastava dizer que o tal acento cai na última, na penúltima ou na
antepenúltima. Dava na mesma e não enchia a cabeça da gente de
tantos nomes feios. Proparoxítona! Só mesmo dando com um gato morto
em cima até o rinoceronte miar. ..
— E há mais ainda — disse Quindim. — As pobres palavras que
têm a desgraça de ter o acento na antepenúltima sílaba, quando não
são xingadas de Pro-pa-ro-xí-to-nas, são xingadas de ESDRÚXULAS. As
palavras Áspero, Espírito, Rícino, Varíola, etc, são Esdrúxulas.
-— Es-drú-xu-las! — repetiu Emília. — Eu pensei que
Esdrúxulas quisesse dizer esquisito.
— E pensou certo — confirmou o rinoceronte. — Como na
língua portuguesa as palavras com acento na antepenúltima não são
muitas, elas formam uma esquisitice, e por isso são chamadas de
Esdrúxulas.
E assim conversando, o bandinho chegou aos subúrbios da
cidade habitada pelas palavras portuguesas e brasileiras.





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