UNIVERSIDADE
DO ESTADO DA BAHIA – UNEB
DEPARTAMENTO
DE EDUCAÇÃO – DEDC CAMPUS I
CURSO:
PEDAGOGIA
DISCIPLINA:
REFERÊNCIAIS TEÓRICO-METODOLÓGICO DO ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA
DOCENTE:
ROSEMARY LAPA DE OLIVEIRA
DISCENTES:
MARLI SANTOS OLIVEIRA
MARILI SOUZA NASCIMENTO
FÁBULA E TONICIDADE
OBJETIVO
GERAL:
Valorização da cultura escrita e desenvolvimento da
fluência em língua oral, leitura e interpretações de textos.
OBJETIVOS:
- Recuperar as histórias da
primeira infância;
- Preparar a criança para a
aprendizagem da escrita e da leitura de maneira
lúdica e criativa;
- Garantir ainda uma relação
mais afetiva entre professora e alunos e facilitar uma melhor integração no
ambiente escolar;
- Refletir sobre os
princípios éticos, morais e culturais representados na história,
interligando-os com a realidade atual, desenvolvendo a habilidade de
argumentação;
- Explorar a linguagem oral
e escrita.
- abordar sobre Tonicidade e
os monossílabos tônicos e átonos, ( Abordaremos sobre tonicidade na 3ª aula,
antes da falar sobre os monossílabos tônicos e átonos).
Gênero
Textual: Fábula – O Patinho Feio
ENSINO
FUNDAMENTAL – 2° Ano
EMPO
ESTIMADO: 03 Aulas
MATERIAIS:
Cartaz com texto para ser colocado no quadro;
Textos xerocopiados para
cada aluno;
Fichas com palavras
retiradas do texto;
Fichas das sílabas das
palavras destacadas.
SEQUÊNCIA
DIDÁTICA:
1ª AULA:
1º
Passo:
A professora vai expor o texto feito em papel metro no
quadro, logo será feita uma observação e comentários dos conhecimentos prévios
dos alunos a respeito do gênero textual que será trabalhado:
Fábulas:
Comentários:
A professora questionará aos
alunos se eles já conhecem a fábula do Patinho Feio; Que outras fábulas ele
conhecem? Fará uma breve introdução da fábula que será lida, salientando que
será a história de um patinho que nasceu diferente dos seus irmãozinhos e por
isso se sentia muito triste. Vocês conhecem uma história assim? Vamos ver se
essa história se parece com a do Patinho feio.
2º
Passo:
Atividade de produção de leitura: Perguntar aos alunos
sobre o gênero fábulas, Quem conhece algum? De quais fábulas eles se lembram?
Quem conta essas histórias para eles?
Vocês já viram, viveram ou
conhecem alguém quem já passou pela situação semelhante a do Patinho Feio?
Se você fosse um dos irmãos
do Patinho feio, o que você diria a ele? Como você se comportaria?
O Patinho feio recebia um
tratamento diferente por ser diferente. Você acha que foi justo o comportamento
dos outros animais com relação a ele?
O Patinho resolve ir embora,
por causa de tantos maltrato. O que você diria ao Patinho: Que ele está certo e
que deve ir mesmo embora ou que ele deveria conversar com todos e ver que é
necessário respeitar as diferenças?
O que se pode dizer do
comportamento final do Patinho Feio? Como você agiria se fosse ele? Justifique:
3°
Passo:
Leitura em voz alta e exploração do texto:
- A professora explicará como será feita a
interpretação do texto e as atividades relacionadas ao texto
- A professora fará mediação
sobre o texto, orientando que observem as ilustrações do texto; O que eles
entenderam ao ver as imagens ilustradas no texto ; O que elas querem demostrar
para eles; qual é o título do texto; de que tema irá tratar o texto; e qual a
finalidade da leitura desse texto. Em
seguida, apresentará o texto, deixando que os alunos explorem, verificando a
ilustração, o título na tentativa de descobrir de que o texto falará, ou até
mesmo qual será o seu tema, incentivar os alunos a lerem algumas partes do
texto, ou mesmo palavras isoladas neles contidas.
- A professora deverá ler o
texto em voz alta, apontado a palavra com uma régua e pedir aos alunos que
acompanhem a leitura individual e coletiva mesmo que levem algum tempo para
decifrar o código escrito centrando sua preocupação na busca do significado.
-Propor várias perguntas
orais, relativas ao texto para que os alunos identifiquem parte do mesmo.
- Quem já sabe o título do
texto?
- Qual o tempo da
narrativa? Quanto tempo ela dura?
Justifique
- Onde ocorrem os fatos?
- Você mudaria essa
história? Por quê?
2ª AULA:
1°
Passo
A professora fará atividades escritas de leitura para
os alunos que já leem textos.
- Será feita uma atividade
de interpretação:
1 - Qual é o titulo da
história?_________________________________
2- De
que o texto fala?_____________________________________
3-Quando
começa a história?_______________________________
________________________________________________________
4
-Por que o patinho resolveu fulgir?
5
-Quem ele encontrou
primeiro?______________________________
6 -Quem chamou o patinho feio para
voar?_______________________
7
O que o patinho descobriu?_________________________________
8
De acordo com o que você leu no texto
complete:
a) Essa
história começa no______________________ e termina na_________________________.
b) Quando
o patinho fugiu, primeiro ele encontrou os_____________________, depois os
_____________________ e, por fim os________________________________.
2°
Passo- Atividades de produção de texto.
-Após a leitura do texto “O
patinho feio” e sua exploração tanto oral quanto escrita, a professora pode
sugerir que os alunos recontem outras histórias de fadas.
- Será feito uma proposta de
produção de uma coletânea ou de um portfólio onde os textos serão colecionados
e lidos por outros alunos na sala.
- O reconto poderá ser feito
de três maneiras:
1°- Caso os alunos não
estejam lendo com desenvoltura, a professora lerá o conto de fadas para eles e
será sua escriba posteriormente, os alunos copiarão o reconto ditado por eles e
escrito pela professora no quadro;
2° - A professora lerá a
mesma história para a classe e cada aluno fará o seu reconto;
3°- Cada aluno lerá um conto
de fada diferente, e em seguida fará o seu reconto.
Para a produção de textos os
alunos deverão saber:
- O que escrever? Um reconto
(gênero textual);
- Para quem? Para os colegas
lerem;
- Para quê? Para montarem
uma coletânea de reconto que serão lidos por outros colegas
(propósitos/objetivos).
3ª AULA: Tonicidade
- Monossílabos tônicos e
átonos
1º
Passo
A professora fará com os
alunos a leitura do texto da Gramática da Emília e fará algumas perguntas para
os alunos:
-Vocês sabem quem é a boneca
Emília?
- De onde vocês ouviu falar
da boneca Emília?
-Você sabe o que é
gramática? Se eles responderem que não sabem a professora fará a mediação,
explicando o que é uma gramática.
- Vocês sabiam que Emília
foi dar um passeio no país da Gramática?
- Imagine que ela é toda
questionadora. O que será que ela aprontou lá?
-Vamos saber o que
aconteceu, vamos ler o texto?
UMA IDÉIA DA SENHORA
EMÍLIA
-— Nele já estamos —
disse o paquiderme. — Esse país principia
justamente ali onde o
ar começa a zumbir. Os sons espalhados pelo ar,
e que são
representados por letras, fundem-se logo adiante em SÍLABAS,
e essas Sílabas
formam PALAVRAS — as tais palavras que constituem a
população da cidade
onde vamos. Reparem que entre as letras há cinco
que governam todas as
outras. São as Senhoras VOGAIS — cinco
madamas emproadas e
orgulhosíssimas, porque palavra nenhuma pode
formar-se sem a
presença delas. As demais letras ajudam; por si
mesmas nada valem.
Essas ajudantes são as CONSOANTES e, como a
palavra está dizendo,
só soam com uma Vogai adiante ou atrás. Pegue
as dezoito Consoantes
do alfabeto e procure formar com elas uma
palavra. Experimente,
Pedrinho.
Pedrinho experimentou
de todos os jeitos, sem nada conseguir.
— Misture agora as
Consoantes com uma Vogai, com o A, por
exemplo, e veja
quantas palavras pode formar.
Pedrinho misturou o A
com as dezoito Consoantes e
imediatamente viu que
era possível formar um grande número de
palavras.
...
Puseram-se a caminho;
à medida que se aproximavam da
primeira cidade viram
que os sons já não zumbiam soltos no ar, como
antes, mas sim
ligados entre si.
— Que mudança foi
essa? — perguntou a menina.
— Os sons estão
começando a juntar-se em SÍLABAS, depois as
Sílabas descem e vão
ocupar um bairro da cidade.
— E que quer dizer
Sílaba? — perguntou a boneca.
— Quer dizer um
grupinho de sons, um grupinho ajeitado; um
grupinho de amigos
que gostam de andar sempre juntos; o G, o R e o A,
por exemplo, gostam
de formar a Sílaba Gra, que entra em muitas
palavras.
— Graça, Gravata,
Gramática. . . — exemplificou Pedrinho.
— Isso mesmo aprovou
Quindim. — Também o M e o U gostam
de formar a Sílaba
Mu, que entra em muitas palavras.
— Muro, Mudo,
Mudança. . . — sugeriu a menina.
— Isso mesmo —
repetiu Quindim. — E reparem que em cada
palavra há uma Sílaba
mais emproada e importante que as outras pelo
fato de ser a depositária do
ACENTO TÔNICO
A professora fará mediação
para que eles percebam que existem palavras nas quais as sílabas são
pronunciadas com mais força e são chamadas de sílabas tônicas e em outras
palavras as sílabas são pronunciadas com menos força e são chamadas de sílabas
átonas, trazendo como exemplos as palavras abaixo:
-
Gente, vocês viram o que o Quindim ensinou no final do texto? Ele disse que em
cada palavra há uma sílaba mais emproada. Vocês sabem o que quer dizer
emproada? (se quiserem, podem promover uma busca no dicionário ou levantar
conhecimento contextual). Ah, então há uma sílaba que é a mais importante, a
mais forte! Vamos fazer uma brincadeira com as palavras que apareceram no
texto? Vamos brincar de vivo ou morto. Quando a sílaba for forte, a gente
levanta. Na fraca, permanece sentado, ok? Então, vamos lá: GRA-ÇA; GRA-VA-TA,
GRA-MÁ-TI-CA; MU-RO; MUDO; UM-DAN-ÇA. Uma dessas palavras que usamos na
brincadeira é diferente das outras. Qual é ela? Por que ela é diferente?
(gramática, por que tem acento). Às vezes, a sílaba mais forte recebe um
acento, às vezes, não!
-
Algumas palavras que só têm uma sílaba, também podem ter tonicidade, podem ter
som forte. Vejam só:
Pó- pá- pé- até – vê – nó –
só
-
Diferente dessas outras que têm som fraco:
Que – por – e – em – de –
lhe – eu -
2°
Passo
Trazer fichas feitas em
cartolinas com palavras monossílabas do texto:
Tão – que – por – mãe – com – uma – sol – num
– vez – por.
A professora lerá as
palavras para que os alunos percebam a intensidade das palavras e também fará
uma leitura coletiva para que eles ao pronunciarem as palavras percebam a
intensidade das palavras tônicas e átonas.
3º
Passo:
Atividade:
1- Vamos voltar ao texto da Emília no País da
Gramática? Que palavras que só têm uma sílaba – as monossílabas – são
acentuadas e quais não são? Metade da sala vai procurar somente as tônicas e a
outra metade só as átonas. Vamos ver qual aparece mais!
___________________________________________________
___________________________________________________
2-
Agora tente usar somente as monossílabas tônicas para formar 2 frases com as
palavras dissílabas:
a) pato
-------------------------------------------------------------------------------------
b) asas
-------------------------------------------------------------------------------------
Avaliação:
Verificar a postura e a participação de cada aluno na audição da história, sua
participação (de forma construtiva) em debates e na recuperação de dados, na
interação com o grupo em atividades relacionadas ao tema.
REFERÊNCIAS:
LOBATO, Monteiro. Emília no País das Maravilhas. Editora:
Circulo do Livro. São Paulo
Disponível
em: http:// www.ftd.com.br/noticias/contos-de
-fada - nas -series-iniciais do –fundamental .
Acessado em: 26 de junho de 2014.
Disponível
em: http://
Eunicemirandaoliveira.blog.com.br/2013/09/língua-portuguesa. Acessado em: 29 de junho de 2014.
Disponível
em: http:// www.sílabas.com.br/sílabas. Acessado em: 28 de junho de 2014.
ANEXOS
I - O Patinho Feio
Era verão quando nasceu o Patinho
Feio. Surgiu de dentro de um ovo tão grande
que
todos pensaram tratar-se de um ovo de peru que por acaso caíra num ninho de
pata.
_ Que pato mais feio! - ouvia ele
quando sua mãe o levava pelo quintal. [...].
O
Patinho Feio sentia-se tão infeliz e malquisto que resolveu fugir.
Atravessou
os campos e encontrou alguns patos selvagens.
_ Como você é feio! - disseram-lhe
também.
Mas aceitaram sua companhia,
contanto que jamais se casasse
com
uma pata selvagem. [...] Decidiu partir novamente, aceitando um convite
dos
gansos que o chamavam para voar.
_ Você é feio demais! - comentaram
os gansos. - Você é tão feio que
acabamos
gostando do seu jeito.
Mas,
antes que o Patinho Feio alçasse vôo, seus novos amigos foram mortos por
caçadores e ele se viu só mais uma vez. [...]
Quando
chegou a primavera, cansado e triste, o Patinho Feio avistou as
aves
mais lindas que já encontrara na vida. Eram cisnes que
nadavam num rio. Aproximou-se e, pela primeira vez, olhou para as águas e viu
seu reflexo.
Descobriu que era um cisne como eles.
Por um instante lembrou-se do tempo em que
era maltratado e perseguido.
Depois,
moveu as asas que brilhavam sob o sol e, também
pela primeira vez,
sentiu-se
feliz.
(Recontada
por Marcelo Coelho. Vice-versa ao contrário.
Companhia
das Letrinhas, 1993.).
II - Uma ideia da
Senhora Emília
Dona Benta, com
aquela paciência de santa, estava ensinando
gramática a Pedrinho.
No começo Pedrinho rezingou.
— Maçada, vovó. Basta
que eu tenha de lidar com essa
caceteação lá na
escola. As férias que venho passar aqui são só para
brinquedo. Não, não e
não. . .
— Mas, meu filho, se
você apenas recordar com sua avó o que
anda aprendendo na
escola, isso valerá muito para você mesmo,
quando as aulas se
reabrirem. Um bocadinho só, vamos! Meia hora por
dia. Sobram ainda
vinte e três horas e meia para os famosos
brinquedos.
Pedrinho fez bico,
mas afinal cedeu; e todos os dias vinha
sentar-se diante de
Dona Benta, de pernas cruzadas como um oriental,
para ouvir
explicações de gramática.
— Ah, assim, sim! —
dizia ele. — Se meu professor ensinasse
como a senhora, a tal
gramática até virava brincadeira.
Mas o homem obriga a
gente a decorar uma porção de definições
que ninguém entende.
Ditongos, fonemas, gerúndios. . .
Emília habituou-se a
vir assistir às lições, e ali ficava a piscar,
distraída, como quem
anda com uma grande idéia na cabeça.
É que realmente
andava com uma grande idéia na cabeça.
— Pedrinho — disse
ela um dia depois de terminada a lição —,
por que, em vez de
estarmos aqui a ouvir falar de gramática, não
havemos de ir passear
no País da Gramática?
O menino ficou tonto
com a proposta.
— Que lembrança,
Emília! Esse país não existe, nem nunca
existiu. Gramática é
um livro.
— Existe, sim. O
rinoceronte1, que é um sabidão, contou-me que
existe. Podemos ir
todos, montados nele. Topa?
Perguntar a Pedrinho
se queria meter-se em nova aventura era o
mesmo que perguntar a
macaco se quer banana. Pedrinho aprovou a
idéia com palmas e
pinotes de alegria, e saiu correndo para convidar
Narizinho e o
Visconde de Sabugosa. Narizinho também bateu palmas
— e se não deu
pinotes foi porque estava na cozinha, de peneira ao colo,
ajudando Tia Nastácia
a escolher feijão.
— E onde fica esse
país? — perguntou ela.
— Isso é lá com o
rinoceronte — respondeu o menino. — Pelo
que diz a Emília,
esse paquiderme é um grandessíssimo gramático.
— Com aquele cascão
todo?
— É exatamente o
cascão gramatical — asneirou Emília, que
vinha entrando com o
Visconde.
Os meninos fizeram
todas as combinações necessárias, e no dia
marcado partiram
muito cedo, a cavalo no rinoceronte, o qual trotava
um trote mais duro
que a sua casca. Trotou, trotou e, depois de muito
trotar, deu com eles
numa região onde o ar chiava de modo estranho.
— Que zumbido será
esse? — indagou a menina. —
1 Esta ilustre
personagem aparece pela primeira vez no livro Caçadas de
Pedrinho. (N. do E.)
Parece que andam voando
por aqui milhões de vespas invisíveis.
— É que já entramos
em terras do País da Gramática
— explicou o
rinoceronte. — Estes zumbidos são os SONS ORAIS,
que voam soltos no
espaço.
— Não comece a falar
difícil que nós ficamos na mesma —
observou Emília. —
Sons Orais, que pedantismo é esse?
— Som Oral quer dizer
som produzido pela boca, A, E, I, O, U
são Sons Orais, como
dizem os senhores gramáticos,
— Pois diga logo que
são letras! — gritou Emília.
— Mas não são letras!
— protestou o rinoceronte. — Quando
você diz A ou O, você
está produzindo um som, não está escrevendo
uma letra. Letras são
sinaizinhos que os homens usam para representar
esses sons. Primeiro
há os Sons Orais; depois é que aparecem as letras,
para marcar esses
Sons Orais. Entendeu?
O ar continuava num
zunzum cada vez maior. Os meninos
pararam, muito
atentos, a ouvir.
— Estou percebendo
muitos sons que conheço — disse
Pedrinho, com a mão
em concha ao ouvido.
— Todos os sons que
andam zumbindo por aqui são velhos
conhecidos seus,
Pedrinho.
— Querem ver que é o
tal alfabeto? — lembrou Narizinho. — E é
mesmo!. . . Estou
distinguindo todas as letras do alfabeto. . .
— Não, menina; você
está apenas distinguindo todos os sons
das letras do
alfabeto — corrigiu o rinoceronte com uma pachorra igual
à de Dona Benta. — Se
você escrever cada um desses sons, então, sim;
então surgem as
letras do alfabeto.
— Que engraçado! —
exclamou Pedrinho, sempre de mão em
concha ao ouvido. —
Estou também distinguindo todas as letras do
alfabeto: o A, o C, o
D, o X, o M. . .
O rinoceronte deu um
suspiro.
— Mas chega de sons
invisíveis — gritou a menina. —-Toca para
diante. Quero entrar
logo no tal País da Gramática.
-— Nele já estamos —
disse o paquiderme. — Esse país principia
justamente ali onde o
ar começa a zumbir. Os sons espalhados pelo ar,
e que são
representados por letras, fundem-se logo adiante em SÍLABAS,
e essas Sílabas
formam PALAVRAS — as tais palavras que constituem a
população da cidade
onde vamos. Reparem que entre as letras há cinco
que governam todas as
outras. São as Senhoras VOGAIS — cinco
madamas emproadas e
orgulhosíssimas, porque palavra nenhuma pode
formar-se sem a
presença delas. As demais letras ajudam; por si
mesmas nada valem.
Essas ajudantes são as CONSOANTES e, como a
palavra está dizendo,
só soam com uma Vogai adiante ou atrás. Pegue
as dezoito Consoantes
do alfabeto e procure formar com elas uma
palavra. Experimente,
Pedrinho.
Pedrinho experimentou
de todos os jeitos, sem nada conseguir.
— Misture agora as
Consoantes com uma Vogai, com o A, por
exemplo, e veja
quantas palavras pode formar.
Pedrinho misturou o A
com as dezoito Consoantes e
imediatamente viu que
era possível formar um grande número de
palavras.
Nisto dobraram uma
curva do caminho e avistaram ao longe o
casario de uma
cidade. Na mesma direção, mais para além, viam-se
outras cidades do
mesmo tipo.
— Que tantas cidades
são aquelas, Quindim? — perguntou
Emília.
Todos olharam para a
boneca, franzindo a testa. Quindim? Não
havia ali ninguém com
semelhante nome.
— Quindim — explicou
Emília — é o nome que resolvi botar no
rinoceronte.
— Mas que relação há
entre o nome Quindim, tão mimoso, e um
paquiderme cascudo
destes? — perguntou o menino, ainda surpreso.
— A mesma que há
entre a sua pessoa, Pedrinho, e a palavra
Pedro — isto é, nenhuma.
Nome é nome; não precisa ter relação com o
"nomado".
Eu sou Emília, como podia ser Teodora, Inácia, Hilda ou
Cunegundes. Quindim!.
. . Como sempre fui a botadeira de nomes lá do
sítio, resolvo
batizar o rinoceronte assim — e pronto! Vamos, Quindim,
explique-nos que
cidades são aquelas.
O rinoceronte olhou,
olhou e disse:
— São as cidades do
País da Gramática. A que está mais perto
chama-se Portugália,
e é onde moram as palavras da língua portuguesa.
Aquela bem lá adiante
é Anglópolis, a cidade das palavras inglesas.
— Que grande que é! —
exclamou Narizinho.
— Anglópolis é a
maior de todas — disse Quindim. — Moram lá
mais de quinhentas
mil palavras.
— E Portugália, que
população de palavras tem?
— Menos de metade —
aí umas duzentas e tantas mil, contando
tudo.
— E aquela, à
esquerda?
— Galópolis, a cidade
das palavras francesas. A outra é
Castelópolis, a
cidade das palavras espanholas. A outra é Italópolis,
onde todas as
palavras são italianas.
— E aquela, bem, bem,
bem lá no fundo, toda escangalhada,
com jeito de
cemitério?
— São os escombros
duma cidade que já foi muito importante
— a cidade das
palavras latinas; mas o mundo foi mudando e as
palavras latinas
emigraram dessa cidade velha para outras cidades
novas que foram
surgindo. Hoje, a cidade das palavras latinas está
completamente morta.
Não passa dum montão de velharias. Perto dela
ficam as ruínas de
outra cidade célebre do tempo antigo — a cidade das
velhas palavras
gregas. Também não passa agora dum montão de cacos
veneráveis.
Puseram-se a caminho;
à medida que se aproximavam da
primeira cidade viram
que os sons já não zumbiam soltos no ar, como
antes, mas sim
ligados entre si.
— Que mudança foi
essa? — perguntou a menina.
— Os sons estão
começando a juntar-se em SÍLABAS, depois as
Sílabas descem e vão
ocupar um bairro da cidade.
— E que quer dizer
Sílaba? — perguntou a boneca.
— Quer dizer um
grupinho de sons, um grupinho ajeitado; um
grupinho de amigos
que gostam de andar sempre juntos; o G, o R e o A,
por exemplo, gostam
de formar a Sílaba Gra, que entra em muitas
palavras.
— Graça, Gravata,
Gramática. . . — exemplificou Pedrinho.
— Isso mesmo aprovou
Quindim. — Também o M e o U gostam
de formar a Sílaba
Mu, que entra em muitas palavras.
— Muro, Mudo,
Mudança. . . — sugeriu a menina.
— Isso mesmo —
repetiu Quindim. — E reparem que em cada
palavra há uma Sílaba
mais emproada e importante que as outras pelo
fato de ser a
depositária do ACENTO TÔNICO. Essa Sílaba chama-se a
TÔNICA.
— O mesmo nome da mãe
de Pedrinho!... — observou Emília
arregalando os olhos.
— Não, boba. Mamãe
chama-se Tônica e o rinoceronte está
falando em Sílaba
Tônica. É muito diferente.
— Perfeitamente —
confirmou Quindim. — No nome de Dona
Tônica a Sílaba
Tônica é Ni; e na palavra que eu disse a Sílaba Tônica é
o To. E na palavra
Pedrinho, qual é a Tônica?
— Dri — responderam
todos a um tempo.
— Isso mesmo. Mas os
senhores gramáticos são uns sujeitos
amigos de
nomenclaturas rebarbativas, dessas que deixam as crianças
velhas antes do
tempo. Por isso dividem as palavras em OXÍTONAS,
PAROXÍTONAS e
PROPAROXÍTONAS, conforme trazem o Acento Tônico na
última Sílaba, na
penúltima ou na antepenúltima.
— Nossa Senhora! Que
"luxo asiático"! — exclamou Emília. —
Bastava dizer que o
tal acento cai na última, na penúltima ou na
antepenúltima. Dava
na mesma e não enchia a cabeça da gente de
tantos nomes feios.
Proparoxítona! Só mesmo dando com um gato morto
em cima até o
rinoceronte miar. ..
— E há mais ainda —
disse Quindim. — As pobres palavras que
têm a desgraça de ter
o acento na antepenúltima sílaba, quando não
são xingadas de
Pro-pa-ro-xí-to-nas, são xingadas de ESDRÚXULAS. As
palavras Áspero,
Espírito, Rícino, Varíola, etc, são Esdrúxulas.
-— Es-drú-xu-las! —
repetiu Emília. — Eu pensei que
Esdrúxulas quisesse
dizer esquisito.
— E pensou certo —
confirmou o rinoceronte. — Como na
língua portuguesa as
palavras com acento na antepenúltima não são
muitas, elas formam
uma esquisitice, e por isso são chamadas de
Esdrúxulas.
E assim conversando,
o bandinho chegou aos subúrbios da
cidade habitada pelas
palavras portuguesas e brasileiras.
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